quinta-feira, fevereiro 01, 2007

O Grande Irmão

É época de Big Brother e como não poderia deixar de ser, o Bluft! quis se meter a dar sua opinião sobre o assunto. Li um texto no Terra Magazine que retrata bem o que penso a respeito e resolvi pedir autorização para o autor e publicá-lo aqui. Segue abaixo:

FIQUE PELADO NO BIG BROTHER
Ronaldo Correia de Brito (texto publicado no Terra Magazine em 31/01/2006)

Alan Pierre não dá importância à opinião dos outros, não segue regras nem se adapta ao meio, o meio é que tem que se adaptar a ele. Recebeu o apelido de Prego, porque tanto bate até que fura. Não é um filósofo francês da nova geração, nem ficou famoso por alguma descoberta no campo da ciência. Apesar do nome, Alan Pierre é um pernambucano de 21 anos, da sétima edição do Big Brother Brasil, que se notabilizou por tomar banho nu três vezes, e por confessar que manteria relação sexual no programa "debaixo ou em cima do edredom, de qualquer forma".
A cantora favorita de Alan Pierre é a funkeira Tati Quebra Barraco e sua literatura, as revistas de mulheres peladas. Ele é o desinibido da "casa" do Big Brother, e a sua irmã Diana achou maravilhoso que tomasse banho nu.
Pedro Bial, apresentador do reality show desde a primeira edição, afirmou que dentro da "casa" os corpos são mais eloqüentes que as palavras. Pedro Bial também apresenta o programa Fantástico e faz pose de intelectual nas horas em que não está conversando com os brothers.
A temperatura no planeta subiu, e promete esquentar mais dentro da "casa", segundo Bial. Uma pesquisa garante que os brasileiros são os mais conscientes sobre o aquecimento global. E olha que ninguém sobe no Cristo Redentor para pendurar cartaz de alerta, como fizeram os ativistas do Greenpeace, na torre Eiffel.
Se os brasileiros são os mais conscientes nas questões ecológicas, os americanos são os mais desinformados, segundo uma pesquisa. Portanto, ficar na frente da televisão vendo Big Brother não aliena ninguém. Ou o raciocínio não vale? Também não vale o exemplo do herói instantâneo, Alan Pierre? Alan não se adapta ao meio, o meio é que tem que se adaptar a ele. Um pouco parecido com a postura dos americanos e de Bush, em relação à emissão de gases poluentes.
As pessoas levam mesmo a sério esses lunáticos que as emissoras de televisão trancam dentro de uma casa, para transmitir imagens de seu convívio. Os telespectadores dão depoimentos empolgados, apontam qualidades e defeitos nos participantes. Em todos os recantos do país, torcidas se manifestam. Pais choram pelos filhos confinados, esposas aceitam que os maridos namorem e transem com outras mulheres. Existe um milhão de reais em jogo.
Toda ética é subvertida. Como no circo romano, alguém comanda a massa e arbitra sobre o resultado. Em Roma, a ralé levantava ou baixava um dedo, decidindo sobre a vida dos gladiadores. No Brasil, votam pago pelos telefones ou internet, escolhendo quem será bombardeado no paredão. A mesma lógica perversa. Pão e circo, ou melhor, circo apenas.
O Big Brother inspirou-se no personagem onisciente e onipresente, O Grande Irmão, imaginado por George Orwell no romance "1984". Esse personagem representava o controle absoluto do Estado sobre as pessoas, o tolhimento da liberdade e do direito de escolha. Para minha geração, o Grande Irmão ou Big Brother simbolizava a mais perversa das utopias.
Como no pesadelo do romance de Orwell, vemos pessoas vigiadas e manipuladas. Elas inventam de tudo para parecerem livres: bebem, fumam, dançam, tiram a roupa, fazem sexo. Tratam-se por brothers como se fizessem parte de uma confraria. Coitados! Mal sabem eles, atores, apresentadores e telespectadores que o Grande Brother existe mesmo. E que manipula lá de cima, criando e destruindo imagens.